Dreadlocks na história
Em função do cabelo naturalmente embaraçar quando não é cuidado ou penteado, os seres humanos pré-históricos provavelmente tinham seus cabelos num estilo muito semelhante ao dreadlock, até eles inventarem pentes e outros utensílios. Dreadlocks foram descobertas em múmias no Peru, mais ou menos entre 200 e 800 d.C, e sacerdotes astecas dos séculos 14 e 15 tradicionalmente usavam seus cabelos em tranças.
Muitas vezes os dreadlocks se tornam o símbolo de devoção de uma religião, como um “voto” de não alterar a vontade da criação de Deus. Na Etiópia, padres das igrejas Coptas usavam dreadlocks durante centenas de anos. Na Índia, seguidores da seita “sadhu” do hinduísmo, usavam os cabelos enrolados em homenagem à divindade Shiva cujos cabelos também eram compridos e enrolados. Os “rasta-budistas” do Japão, membros da seita negra Muslim Baye Fall do Senegal, os maori na Nova Zelândia, e tribos na Namíbia e Angola, todos usam dreadlocks .
Mas, de longe, o grupo mais conhecido a usar dreadlocks são os rastafáris jamaicanos. O Movimento Rastafári teve início na décadad e 1930 na Jamaica, como uma pequena seita que acreditava que Haile Selassie I, que se tornou imperador da Etiópia em 1930, era o Messias.
Os rastas vêem os dreadlocks como uma forma de manterem a si mesmos em um estado puro da natureza como era a intenção de Deus. Eles usam a história bíblica de Sansão e seu voto de nunca cortar os cabelos, como justificativa. Os rastas tendem a usar os locks na forma livre, permitindo ao cabelo crescer em tamanhos aleatórios. Eles também são contra lavar os dreads, exceto com água purificada.
As crenças do Rastafária são também fortemente enraizadas na ideia da África como um paraíso e no Ocidente como um local de prisão e escravidão. Dessa maneira, deixar seus cabelos livres e longe da beleza ideal europeia é uma forma de celebrar o orgulho étnico.
Os rastas começaram a usar dreadlocks no final dos anos 1950 e início dos anos 1960, mas há explicações históricas concorrentes para a adoção desse estilo de cabelo e seu nome. Eles podem ter se inspirado numa tribo do Quênia chamada Mau Mau que usava cabelos em locks e se rebelou contra os ingleses nos anos 1950, ou ainda na pobreza de alguns desabrigados jamaicanos que deixavam seus cabelos crescerem em locks por conta própria. O termo “dread” pode ter surgido a partir da reação dos britânicos aos combatentes do Mau Mau, ou dos rastas jamaicanos que imaginavam a si mesmos instigando medo no coração dos não crentes.
Nos primeiros dias do movimento, os rastas enfrentaram perseguição e muitos foram presos na Jamaica. Mas a sua religião e estilo de cabelo foram cada vez mais amplamente aceitos, e muito graças ao mais famoso fã de dreadlocks – Bob Marley .
Dreadlocks: mitos e verdades
Mito: de acordo com a Bíblia, Sansão usava dreadlocks. Verdade: realmente a Bíblia faz referência ao fato de Sansão ter feito um voto de nunca cortar seu cabelo e às sete tranças que ele usava.
Mito: os antigos celtas e egípcios usavam dreadlocks. Verdade: ambos os mitos são interpretações criativas da arte antiga. Algumas mulheres celtas usavam tranças em seus cabelos . Já os egípcios raspavam suas cabeças e usavam cocares feitos de cabelos humanos trançados [fonte: Corson].
Mito: dreadlocks podem parar balas. Verdade: uma mulher cujo cabelo era particularmente muito crespo e cheio conseguiu parar uma bala em 2009 . Mas não há evidências de que os dreadlocks tenham o mesmo “poder”.
Mito: dreadlocks podem ser cortados e doados para instituições de caridade, como qualquer outro cabelo. Verdade: as instituições de caridade não aceitam doações de dreadlocks .
Dreadlocks hoje
O movimento Rastafári e os dreadlocks se espalharam não só pelos Estados Unidos, mas pelo mundo inteiro com os sucessos de Bob Marley e os Waylers no final da década de 1970 – mas muitas vezes esse estilo de cabelo e a religião encontraram medo e hostilidade na cultura desses locais. Os laços da religião associados à ideologia negra nacionalista e fumar maconha foram alguns dos itens que contribuíram para criar tais controvérsias.
Na cultura popular, filmes como “Marcados para Morrer” e “Predador 2” (ambos lançados em 1990) retrataram gangues de rastafáris que usavam dreadlocks e que ameaçavam cidades e crianças americanas ao vender drogas e se engajar em rituais pagãos violentos. No entanto, com o passar do tempo, os drealocks se tornaram mais aceitos, graças em parte à figuras como Bob Marley, o cantor Lenny Kravitz e o jogador de beisebol Manny Ramirez, que mostraram que os dreadlocks também tem um lado gentil.
Atualmente há salões de beleza em muitos bairros dos Estados Unidos, Canadá, Japão, Brasil, Reino Unido e outros países especializados em dreads. Esse estilo de cabelo se popularizou não apenas entre os jamaicanos e pessoas que simpatizam com a causa rastafári, mas também entre pessoas de todas as raças e origens.
No entanto, os dreadlocks ainda podem causar barulho em alguns círculos e há muitas pessoas que ainda veem o estilo como algo sujo ou descuidado, ou o associam ao radicalismo. Empregadores geralmente têm o direito de despedir seus funcionários ou forçá-los a cortar seus dreads – se quiserem manter o emprego.
Isso é mais comum na indústria de serviços ou profissões conservadoras. Se você é um rasta ou usa dreadlocks como uma forma de devoção religiosa, pode ser um pouco discriminado. Mas aqueles que usam os dreads apenas como estilo de cabelo escolhido não sofrem tanto. Nesse caso os empregadores têm o direito de estabelecer normas cujo objetivo é que o funcionário seja limpo, mas não podem discriminar alguém por pertencer a uma raça particular ou grupo religioso .
Talvez, como muitos penteados, os dreadlocks venham a ser vistos como algo menos radical e mais convencional com o passar do tempo, e novos penteados tomem o seu lugar no radicalismo. Afinal, trancinhas já foram algo provocante e o corte de cabelo dos Beatles já foi também bem controverso.